Coluna Mano a Mano

>> sábado, 28 de novembro de 2009

A Califórnia voltou
por Chico Cougo

(Foto: Centro de Tradições Gaúchas de Niterói)

O maior festival de música nativista do Rio Grande do Sul está de volta. Depois de inúmeras crises, dívidas e decepções, a 36ª Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana está prestes a se tornar realidade. De acordo com a organização do evento, o festival está previsto para os dias 3, 4, 5 e 6 de dezembro, no Parque Agrícola e Pastoril de Uruguaiana, onde é esperado um grande público.

Dividindo opiniões há mais de trinta anos, a Califórnia da Canção nasceu em 1971, depois que o músico Colmar Duarte não conseguiu classificar sua canção Abichornado em outro festival, decidindo, então, organizar um certame aberto exclusivamente à canção regional. Em pouco tempo, o Cine Pampa de Uruguaiana e, mais tarde, a Cidade de Lona, transformaram-se no palco do mais esperado evento musical do Rio Grande do Sul. As canções vencedoras da Calhandra de Ouro nos anos 1970 transformaram-se em sucesso, seus compositores e intérpretes foram elevados à condição de astros e, em 1987, o evento chegou a ser transmitido pela TV, para todo o país.

Forte, a Califórnia passou a ser, também, o palco de uma ambiciosa renovação musical do Rio Grande do Sul. Contra os "astros oficiais" da época (como afirmava o músico Luiz Coronel, em 73), o festival de Uruguaiana consolidou o movimento nativista, uma nova vertente musical, mais sofisticada e oposta àquela sobre a qual pairava o estigma da "grossura" (especificamente o cancioneiro de Teixeirinha, Gildo de Freitas, José Mendes e outros conhecidos nomes do gauchismo).

É claro que a Califórnia não conseguiu enfraquecer a popularidade dos "grossos" ou "tradicionalistas". No entanto, ela conquistou seu lugar, e foi declarada Patrimônio Cultural do Estado em 2004. O problema é que, à estas alturas, a criatura já vitimizara seus criadores. Polêmico desde o início, o certame onde foram revelados nomes como Leopoldo Rassier e Vitor Ramil, começou a se desgastar no final dos anos 1980, com a disputa por quem daria as tintas para os novos rumos da música gaúcha. Cada vez mais "sofisticada" em sua proposta estética e preenchida por um cancioneiro de difícil assimilação (como grande parte do nativismo é, ainda hoje), a Califórnia foi naturalmente perdendo público. Em 2002, o evento já era um arremedo do que fora. A partir de 2006, a falta de verbas e investimentos levou a festa da Cidade de Lona às ruínas.

Agora, uma nova etapa. Mais modesta, a Califórnia eliminou as tradicionais pré-califórnias (etapas classificatórias) e promete um espetáculo mais humilde e de qualidade. Foram centenas de canções inscritas e 25 classificadas para a fase final. O evento conta com o apoio da prefeitura de Uruguaiana, CTG Sinuelo do Pago e duas empresas privadas. A missão de recuperar a importância de outrora é árdua. Mais ainda é a de repensar os rumos da música nativista (de todo o gênero gauchesco, na realidade), cada vez mais fechado em torno de si e dono de popularidade praticamente irrisória. Tomara que o reerguimento do festival sirva para estas reflexões.

Leia também:
Coluna da Lidi 

0 comentários:

Leia também:

Direitos de uso do conteúdo

Todo conteúdo textual aqui publicado pode ser divulgado e distribuído livremente pela Internet, mas desde que citada a fonte. Para uso em publicações impressas, entre em contato pelo e-mail chicocougo@gmail.com .

  © Blog desenvolvido com base no template Palm , disponível em Ourblogtemplates.com América Macanuda 2010

Voltar para o TOPO