Coluna da Lidi
>> sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
"Por suerte tengo guitarra para llorar mi dolor"
por Lidiane Silveira
Quando ingressei na universidade, minha primeira professora de espanhol foi uma chilena que me 'alfabetizou', de certa forma, no idioma. No início era meio complicado entende-la, mas com o tempo fomos acertando os ponteiros e minha admiração e carinho por ela foram crescendo. Foi também através desta professora que indiretamente fui descobrindo algumas coisas sobre folclore latino-americano, através das músicas que levava para as aulas, e das vezes que se prendia a contar histórias de "Los Jaivas", "Gabriela Mistral", "Pablo Neruda" e, claro, "Violeta Parra". E é sobre essa notável figura do folclore chileno que gostaria de falar hoje.
(Foto: Divulgação)
Violeta Parra nasceu em 1917, em San Carlos (Chile), autodidata, aos doze anos já compôs suas primeiras canções. Envolveu-se em outros gêneros artísticos como pintura, escultura, bordados, entre outros. Contudo, seu maior trunfo talvez se dê a partir da década de 52, quando começa a recorrer zonas rurais chilenas em busca do que de mais autêntico há na cultura de seu país, e que até então representava uma riqueza escondida aos olhos do mundo. Tal feito a levou a ser reconhecida e estimada na Europa, onde faz shows em Alemanha, Itália, França, Rússia.
Viajou também por vários países da América Latina, mas sem muita explicação, tem reconhecimento em seu país somente após a sua morte ocorrida em 1967. Tanto que em 1965, na companhia de seus filhos e alguns outros folcloristas chilenos, instala uma Peña Folklorica em Santiago com o intuito de convertê-la em um centro de folklore chileno, empreendimento que não chega a alcançar proporções desejadas e, junto ao fim de um intenso relacionamento amoroso, vem a soar como um dos motivos ao triste fim da vida da artista.
Entre os temas abordados em suas canções estão a vida simples do campesino, o amor à terra, à vida, e passagens de suas próprias experiências, como nas conhecidíssimas "Volver a los diecisiete", gravada por Milton Nascimento e Mercedes Sosa, e "Gracias a la vida", também gravada pela Negra e outros vários nomes, entre eles Elis Regina. Destacam-se ainda em seu repertório canções de cunho político, onde seus versos assumem caráter de denúncia a injustiças sociais. Como exemplo está a canção "La carta" ("Habrase visto insolencia, / barbarie y alevosía / de presentar el trabuco / y matar a sangre fría / a quien defensa no tiene / con las dos manos vacías, sí"), que anos mais tarde impulsionou a letra do cantor espanhol Joaquin Sabina para a música Violetas para Violeta ("Lo dijo Violeta Parra, / hermana de Nicanor, / por suerte tengo guitarra / y sin presumir de voz, / si me invitan a una farra / cuenten con mi corazón, sí"). Se alguém algum dia se dedicar a investigar o "dialogismo musical", tem aí um bom exemplo.
A discografia de Violeta conta com mais de trinta discos e suas artes plásticas estiveram em várias exposições no Chile, na Europa e na Argentina. Suas obras, hoje em dia, são de responsabilidade da "Fundação Violeta Parra", instituição criada pelos herdeiros da compositora com a finalidade de preservar e trazer viva a obra desta grande figura latino americana.
"Yo canto a la chillaneja si tango que decir algo,
y no tomo la guitarra, por conseguir un aplauso,
yo canto a la diferencia que hay de lo cierto a lo falso,
de lo contrario no canto"
Fica aí o convite a quem tiver a oportunidade de ouvir suas décimas, suas cuecas e entender um pouco de sua história e importância.
Até a próxima.
Fuerte abrazo!
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