Coluna Mano a Mano
>> terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Pirataria ou salvação?
por Chico Cougo [@chicocougo]
(Copacabana)
Se a Internet fez algo de bom pela história da música, foi possibilitar que cada um de nós possa viajar no tempo, catando velhos discos. Nunca foi tão fácil buscar gravações antigas, obras de artistas que já morreram e canções que se perderam no tempo. Hoje, meia dúzia de cliques tornam a missão da pesquisa musical um processo fascinante e infinito.
Há quem diga que a disponibilização de velhos discos (muitos deles LPs remasterizados de forma amadora, sem nenhum lucro para quem o faz, a não ser o prazer de compartilhar) é pirataria. Legalmente, até posso concordar. Como amante de música, nunca. Não fossem estes "piratas", discos como "Tropa Amarga", gravado por Luiz Menezes e Darcy Fagundes em 1968 (uma das maiores pérolas do cancioneiro gaúcho), até hoje seriam relíquias praticamente desconhecidas pelas novas gerações. Aliás, muitos artistas teriam quase toda sua discografia perdida se a Internet não existisse. Berenice Azambuja, Jorge Camargo, José Mendes e outros muitos (isso para ficar apenas deste lado da fronteira macanuda, já que na Argentina e no Uruguai processo semelhante também acontece) seriam artistas de dois, três ou nenhum disco conhecido, não fosse a grande penetração da rede mundial, que os trouxe à baila novamente.
Até mesmo os maiores astros da canção do Rio Grande do Sul dependem da Web. Teixeirinha, por exemplo, é um destes. Embora a Orbeat Music tenha lançado boa parte de seus discos no formato digital a partir de 2004, praticamente toda a discografia gravada pelo cantor na extinta Copacabana permanece inédita em CD. De José Mendes, outro fenômeno dos anos 60, apenas "Pára Pedro" (1968) foi relançado. Estes dois casos, aliás, representam algo de muito grave no que diz respeito à preservação do patrimônio musical destas plagas. Fato é que Teixeirinha e Mendes, entre outros artistas, fizeram suas carreiras nas grandes companhias discográficas com sede em São Paulo e Rio de Janeiro, todas elas sistematicamente engolidas pelas multinacionais norte-americanas e européias a partir dos anos 1980. Warner, Sony, EMI e outras companhias internacionais raramente se preocupam com os acervos musicais dos artistas sulinos, quase sempre destruindo ou "perdendo" as fitas-demo originais, como se o estilo musical que elas continham fosse coisa de um passado que não necessita de preservação.
A Internet se tornou a forma de protesto mais eficaz contra a detenção e destruição da arte que muitos amam e desejam transmitir a seus filhos e netos. Graças a ela, nossos artistas não se perderão mais no tempo, sendo revisitados a cada nova geração. Pirataria ou não, é este o processo que poderá salvar a produção musical da América Macanuda contra os desmandos que vem de cima.
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