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>> sábado, 23 de janeiro de 2010


                                                                 Aqui Cosquín
por Chico Cougo [@chicocougo]

Nesta semana, dois grandes festivais de música sacodem a América do Sul. O primeiro e maior deles, acontece na cidade argentina de Cosquín, um velho povoado serrano que outrora foi o recanto favorito dos tuberculosos em busca de cura; o segundo, em Olmué, no Chile, um palco consagrado por onde já passaram alguns dos maiores artistas populares latino-americanos.

Dois cenários tradicionais, o primeiro com 50 e o segundo com 41 anos de histórias. Festivais que recebem milhares de espectadores, contam com a presença de artistas de cachê surpreendente (e exorbitante), são veiculados pelas principais rádios e TVs de seus respectivos países, repercutem no mundo todo, angariam novos fãs a cada ano e fazem ecoar a força do canto popular latino de projeção folclórica. Ou seja: conseguem todos os êxitos que a maior parte de nossos festivais congêneres sempre desejaram, mas nunca conseguiram.

Penso até que a Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana conseguiu chegar perto dos grandes festivais latino-americanos. Pelo menos na década de 1970, quando as rádios brigavam para transmitir suas edições, cantores famosos abriam as noites de espetáculos, canções com aporte de futuros clássicos recebiam a Calhandra e emissoras de TV do Rio e São Paulo dedicavam espaço ao certame. Correndo o risco do exagero, eu diria que sim, houve um festival semelhante àqueles longevos e exitosos que vemos na Argentina ou no Chile. Só que não existe mais. Hoje, o grande momento musical do verão meridional brasileiro é o Planeta Atlântida, que tem sua importância dentro de um determinado segmento musical, mas que não tem a obrigação de dar brechas ao canto popular regional.

No fundo, é triste perceber que uma cultura “festivaleira” semelhante a de nossos “hermanos” fronteiriços talvez não tenha vingado por estas plagas. Nossos festivais são “nativistas”, uma outra vertente musical. Apregoam um tipo de canção que nem sempre repercute com bons sentimentos no ouvido popular; ascendem e despencam como castelos de cartas, envoltos, por um lado, na briga por troféus e, por outro, na desorganização financeira; nascem grandes hoje, médios daqui um ano e irrisórios no seguinte. É como se o sentido da integração – o mais nobre dos que a música pode oferecer – tenha se descolado da proposta de 50, 70 ou 90% dos festivais sulinos. Importa mais vencer o certame, mostrar-se aos pares. E, menos, criar uma cultura de fraternidade, de união pela arte.

Posso estar sendo muito duro, mas creio que temos muito o que aprender com os Cosquíns e Olmués da vida...

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