Livros: "Discépolo: una biografía argentina"

>> sábado, 27 de fevereiro de 2010

por Chico Cougo [@chicocougo]

Além da música, nossa América Macanuda possui pelo menos outras duas artes em que é pródiga: o cinema e a literatura. Pensando nisso, a partir de hoje este blog passará a abordar, também, estes dois assuntos. E começamos logo com um livro bastante interessante: Discépolo, una biografía argentina, do historiador Sergio Pujol (Booket, 1996).

Embora não tenha tradução em português, a biografia histórica de Enrique Santos Discépolo (1901-1951) – ator, teatrólogo, diretor de cinema e autor de tangos clássicos como Cambalache e Yira, yira – bem que merecia uma versão em nossa língua. Discepolín foi o maior poeta popular argentino, influenciou uma geração inteira e sua obra ressoou por toda a América Latina. Para que se tenha uma idéia, em 1969, Caetano Veloso gravou o tango Cambalache. Dois anos antes, o seresteiro Nelson Gonçalves também já havia registrado versões de alguns sucessos discepolianos, dentre eles o clássico Confesión. Até Raul Seixas, quase uma década depois, gravaria peças do criador de “El Mordisquito”.

Na obra de Pujol, que também é crítico musical, Discépolo é revisitado pela lupa do tempo. Com sua filosofia peculiar, o autor de Uno parece saltar das páginas do livro para a atualidade. Seu pessimismo tão característico é mostrado em todas as suas facetas e origens: a perda prematura dos pais, a mão rígida de Armando (seu irmão mais velho), a busca desenfreada pelo sucesso, a carência por aplausos e reconhecimento, a desesperança sobre os rumos do mundo, os desencontros amorosos, sua relação contraditória com a pareja Perón-Evita e seu grande amor pela cantora Tania (com quem viveu por mais de duas décadas, apesar da infidelidade pública da companheira).

No entanto, mais do que uma narrativa cronológica, Discépolo tem o grande mérito de esmiuçar a trajetória das produções artísticas de Enrique. Cada peça de teatro, cada tango, cada filme e cada programa de rádio ganha seu espaço no livro. Mais do que produtos de uma mente engenhosa e inquieta, estas obras são mostradas dentro de um contexto histórico que as expõe mais como frutos de momentos especiais, do que da suposta genialidade “sobrenatural” de Discépolo. Não há coincidências quando se fala do autor de Yira, yira.

Outro ponto alto do estudo é o resgate que ele faz sobre a produção teatral de Discepolín, um lado que nem todos conhecem. Peças como Wünder Bar, adaptação de um grande sucesso europeu, são descritas em detalhes. A inserção de canções compostas por Discépolo especialmente para tais apresentações, também. Aliás, um dos grandes momentos do livro parece estar no longo relato que o autor faz sobre a gestação de Uno, tango composto a partir de uma melodia de sucesso do pianista Mariano Mores.

Dos defeitos de Discépolo: una biografía argentina, eu destacaria, principalmente, a falta de referências sobre declarações, documentos e livros citados. No final do compêndio, há uma vasta bibliografia de onde o autor retirou o emaranhado de informações. Entretanto, no texto em si, não existem referências específicas, o que prejudica àqueles que têm a pretensão de averiguar tais informações na busca por maiores detalhes. Mesmo assim, este defeito não chega a diminuir a importância e o bom trabalho de Sergio Pujol. Trata-se de uma biografia fundamental para os que gostam do universo do tango e para aqueles que querem saber mais sobre um dos autores fundamentais para a compreensão da América Latina (quiçá do mundo todo) no século XX.

1 comentários:

Unknown 28 de fevereiro de 2010 às 05:28  

Ola

Gostei muito do seu blog, gostaria de ver um filme em especial comentado nesse seu espaço , o famoso “ Tangos, L'exil de Gardel -(Tangos, O Exílio de Gardel)” de 1985 .
O filme trabalha com dois temas fundamentais para os argentinos , o “Tango” e o “Exílio”. Não sei se conhece ou não a película, por isso vou aguardar a sua opinião.

Obrigado e boa sorte

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