Solemania: Soledad (Sony Music, 2000)

>> sexta-feira, 16 de julho de 2010

por Chico Cougo

Fotos: Sony Music

Soledad Pastorutti precisou ir a Miami, gravar um disco pop e despertar olhares de desconfiança da “velha guarda” do folclore argentino, para perceber que seu habitat natural era muito mais o noroeste gaúcho de seu país (onde nasceu), do que a Latino-América dançante e paradisíaca vendida pelos americanos em revistas de turismo.

Depois de “Yo si quiero a mi país” (1999), o furacão confinou-se nos estúdios El Pie, de Buenos Aires. Ali, novamente com os principais músicos que lhe acompanharam no início (Arauca, Calcaterra, López), agora somados ao talento do baixista Pablo Santos e do diretor Gerardo Gardelín, a trupe gravou “Soledad”, o álbum que marca o regresso definitivo da cantora à arte de inspiração folclórica.

É interessante analisar a carreira desta santafesina através de seus CDs. Como já mostrei nos últimos dias, seus primeiros três álbuns foram dotados de uma originalidade tão grande, que a precariedade das gravações passa despercebida a qualquer ouvinte. No quarto trabalho, “Yo si quiero a mi país”, é exatamente este viés “amador” que se combate, mas algo dá errado e o disco acaba destoando dos demais. Com “Soledad”, em 2000, finalmente unem-se qualidade musical elevada e seleção de temas certos.

Do ponto de vista das vendas, a quinta obra de Sole foi um sucesso tão grande quanto todos os outros. Premiado com dois discos de Platina, só não vendeu mais porque os anos 2000 começam com uma grande decadência no mercado fonográfico (visivelmente atingido pelas transformações proporcionadas pela informática – aquele processo que a indústria chama de “pirataria”). Mesmo assim, este disco é um êxito estrondoso e sua “estética” ajuda a entender o porquê.

Primeiro: depois de não ter logrado o resultado esperado no mercado “internacional”, Sony Music e Soledad decidem investir com força no comércio interno argentino. “Soledad” é, por isso, um álbum folclórico em praticamente tudo; até na capa – simples, mas sugestiva, já que Soledad aparece em frente a uma paisagem de Arequito, como que simbolizando sua “volta ao pago”. No repertório, o disco também chama atenção. São treze faixas, sendo três temas típicos peruanos, um chileno e todos os demais argentinos. No time de autores, alguns nomes consagradíssimos: o sempre presente Horacio Guarany (Carta a un amigo, parceria com Albérico Mansilla), o clássico José Larralde (Garza viajera) e Chango Rodriguez (De mi madre e Luna cautiva), entre outros. Da pena da própria Soledad, consta De mi pueblo (em parceria com Palito Ortega).

Em “Soledad”, Natália Pastorutti participa em duas faixas, De mi madre e Chacarera del cardenal. Nesta última, aliás, há um registro importantíssimo da voz de Sixto Palavecido, que atua como “violino convidado”, numa nítida estratégia de consolidar a intenção folclórica do disco. Sobre a participação de Nati, vale lembrar que neste álbum a irmã mais nova de Soledad começa a definir mais claramente seu talento como cantora, ganhando um destaque crescente que, mais tarde, redundará em seu primeiro CD solo.

Não posso encerrar este texto sem falar daquela que, sem dúvidas, é uma das principais faixas de “Soledad”. Até porque, honestamente, é até meio difícil acreditar que os produtores da Sony tivessem certeza sobre o sucesso absurdo que uma “ultrapassada” valsa peruana dos anos 50 poderia fazer em pleno ano 2000. Estou falando, claro, de Propriedad privada (Julio Jaramillo), talvez o maior êxito do repertório de Soledad depois de Que nadie sepa mi sufrir. Certamente, só Propriedad… já asseguraria a vendagem do álbum.


Pessoalmente, tenho um grande apreço por este CD do “furacão de Arequito”. Foi através da faixa 11, Cuando llora mi guitarra (Agusto Campos), outra valsa peruana, que conheci a cantora, numa gris tarde de novembro de 2008. Acho que, por isso, este é meu álbum predileto de La Sole. Para mim, tem um gostinho diferente, bonito, puro. Sentimento bastante diferente do que sinto por “Libre”, o próximo disco a ser analisado por aqui.

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