Solemania: Yo si quiero a mi país (Sony Music, 1999)

>> domingo, 11 de julho de 2010

por Chico Cougo
Fotos: Sony Music

Durante três anos consecutivos, Soledad Pastorutti manteve-se no topo da parada de sucessos argentina, angariou milhares de fãs e colecionou prêmios diversos. Entre 1996 e 1998, ela foi a artista número um da filial hermana de Sony Music. Empolgados pelo “fenômeno La Sole”, os executivos da companhia acharam que já era hora de Pastorutti deixar para trás a simplicidade dos estúdios portenhos para alçar vôos mais altos. E assim nasceu “Yo si quiero a mi país”, seu quarto CD.

Foi um passo ousado. Um salto, na verdade. Com “Yo si quiero a mi país”, a intenção era explícita: transportar o sucesso que havia conquistado a Argentina, para o resto da América. Soledad – que já obtivera algum êxito na Espanha (onde teve seu segundo disco, “La Sole”, editado) -, viajou para o principal centro de produção da música latina, Miami. Lá, ela foi assessorada pelo conhecidíssimo Emilio Estefan Jr (através da Estefan Enterprises Inc, responsável, entre outros artistas, por Gloria Estefan). Emilio dirigiu e produziu o novo disco de Sole. Fernando Isella, responsável direto pelos primeiros três álbuns da cantora fica para trás nesta história. Ele e uma parcela do caráter “puramente folclórico” da carreira do “furacão de Arequito”.

“Yo si quiero a mi país” transformou Soledad numa das principais artistas latino-americanas. Inegavelmente, o disco lhe deu prestígio num mercado difícil. Comercialmente, o trabalho também saiu exitoso, angariando três discos de Platina na Argentina. Contudo, apesar dos benefícios, o quarto álbum de Soledad acendeu uma luz amarela em sua carreira: dada a brusca mudança de estilo e sonoridade, parte do público cativo da cantora parece ter sido surpreendida pelo resultado final da obra. Muitos não gostaram do que ouviram e os intentos de sucesso internacional acabaram não se concretizando. “Yo si quiero…” mostrava, nitidamente, que o time com que Sole havia jogado até então era vencedor. E que não deveria ser mexido.

Mesmo assim, musicalmente, este é o melhor álbum da cantora, se comparado aos anteriores. Momentaneamente abandonada a base de duas guitarras e um bombo, o instrumental do disco é riquíssimo, principalmente no que tange à percussão. Também, pudera: é neste disco que La Sole dá um chega pra lá nas marcantes chacareras e zambas para gravar ritmos mais universais latino-americanos, como o candombe (Popurri de candombes, com participação de Natália) e outros temas típicos da América Central.

Apesar disso, o folclore não fica de fora nesta produção, e El humahuaqueño é um bom exemplo do quanto os produtores da (agora) Sony International tentaram manter determinados traços característicos dos primeiros discos de Pastorutti. Traços que, aliás, acabam um tanto quanto sufocados pela enxurrada pop que varre a maioria das doze faixas do álbum.

Por falar em pop, eu diria que a maior herança deixada por “Yo si quiero a mi país” para a carreira de Soledad foi a presença de El bahiano (Angie Chirino), a história melodramática (e dançante) da jovem Lorena que, na praia de Ipanema (sim, no Rio de Janeiro), se encanta por um baiano pianista. É um amor proibido (o tal baiano é um miserável e a menina é filha de um rico empresário), e que leva Lorena a um estranho suicídio. Apesar de insólita (na minha opinião, pelo menos), El bahiano transformou-se num sucesso estrondoso, estando presente até hoje no repertório de Soledad e, por algum tempo, nas pistas de dança, já que a canção ganhou uma versão remix tempos atrás.

 
Resumidamente, eu diria que “Yo si quiero a mi país” é a obra-contradição na carreira de Soledad. Fez sucesso, deixou marcas, mas mostrou à cantora que seu público a preferia cantando folclore. Embora tenha buscado uma inspiração pop nos discos posteriores, a santafesina nunca mais deixaria de ter como foco a música de inspiração folclórica. Por isso, “Yo si quiero…” pode ser visto como o “erro benéfico” que todo artista de sucesso comete algum dia. Um erro que rendeu boas pérolas “lado B” para Sole, como Mi bien e a minha paixonite aguda Mi consejo (letra genial do pouco conhecido Roberto Blades).

Em 2000, a carreira de Sole volta aos trilhos. Depois da malfadada produção de Miami, a cantora responderá ao susto da mudança brusca à altura. Seu próximo disco, tema de nosso próximo post, terá o pago de Arequito nas faixas e até na capa.

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